"Queria poder te levar
Fazer o que a gente bem pensar,
Ficar e o que fosse preciso..."
Fazia tempo que isso não acontecia...
Fazia muito tempo que você não aparecia em meus pensamentos e de repente, assim, do nada como uma chuva de verão que chega sem aviso você se fez presente.
Parecia que estava do meu lado...
Que estávamos juntos e que, finalmente era a hora de colocar tudo para fora e resolver essa coisa que existe entre nós.
Não, eu não estou louca... Existe alguma coisa entre nós, afinal, por qual outra razão você teria aparecido em meus pensamentos? Quando as coisas ganham um ponto final, quando são resolvidas elas não voltam como fantasmas assombrando os pensamentos, assombrando o coração e fazendo com que todas as coisas guardadas e escondidas viessem a tona...
Então, de repente estávamos nós dois, sentados em um café qualquer da cidade, um de frente para o outro, sem saber como começar a conversa...
- Não sabia que ainda te veria um dia - eu digo timidamente, sem saber se é realmente o jeito certo de começar uma conversa...
- Pois é... Eu pensei o mesmo - ele responde.
Tomo um gole do café para preencher o espaço vazio, o silencio persistente que existe entre nós. Antes, quando ficávamos juntos em silencio, esse vazio não incomodava. Era tranquilo estar ao seu lado e eu queria tanto aquela sensação entre a gente de volta.
- Você pensa em como nossas vidas poderiam ter sido diferente? - ele pergunta e eu quase derrubo o café, pois nunca imaginei que ele pudesse, finalmente, tocar nesse assunto.
- E você, pensa?
- Claro que eu penso. Todo dia imagino onde foi que tudo mudou, onde foi que cada um virou uma curva diferente do caminho e deixou esse espaço se ampliar cada vez mais.
Eu fico sem palavras... Porque faz mais de 15 anos que a gente não conversa e sua voz ainda consegue me fazer ficar arrepiada, ainda me faz ficar sem graça e querendo não ser eu mesma, para pelo menos uma vez na vida dizer as coisas certas.
- Já que você não fala nada, posso te fazer uma pergunta? - Ele diz com aquele ar de quem quer e ao mesmo tempo não quer saber a resposta...
- É claro que pode.
- Promete me dizer a verdade? Sem fugir do assunto, sem inventar desculpas?
Fico nervosa, as borboletas do estômago parecem querer sair todas pela boca pois de algum jeito, sei o que ele vai me perguntar. E também sei que, 15 anos depois, eu ainda não me sinto preparada para ouvir essa pergunta, ou para ouvir minha voz dizendo as respostas...
- Eu nunca menti para você.
- Não?
- Nunca! Eu posso não ter te dito tudo, eu posso ter guardado somente para mim algumas coisas, mas eu nunca te falei algo que não fosse verdade.
- Você alguma vez sentiu algo por mim?
E é assim, mais uma vez que todos os meus medos, todos os meus receios e todas as minhas preocupações ressurgem e me fazem querer correr. Eu quero estar aqui, eu quero estar com ele, mas eu não quero ter que pensar nisso, eu não quero ter que enfrentar isso. Mas é preciso, afinal, eu prometi uma resposta...
- Sim... - eu mais sussurro do que respondo, mesmo sabendo que ele merece mais do que isso. Enquanto ele espera, eu respiro fundo e busco uma frase feita, que guardo no fundo da memória desde o primeiro momento que associei a música com ele... - Eu quis o tempo todo enquanto estivemos perto... Eu só não soube como dizer... - respiro fundo e continuo, porque agora que a porta se abriu, não tem como fechar sem deixar tudo o que está lá dentro sair.
- Eu não sei explicar, mas parece que eu ainda sinto. Faz tanto tempo que a gente não se vê, não se fala, não sabe nada um do outro,mas meu coração parece que parou no tempo. Sim, isso é até ridículo de dizer... Você seguiu sua vida, não está sozinho, e mesmo assim, isso tudo não importa. Se você estivesse sozinho, se pudesse existir alguma chance, eu me agarraria a ela e ficaria te esperando, o tempo que fosse. Porque eu acho que eu não sentia algo por você e sim que eu sinto algo por você.
Não é tudo o que eu queria dizer, não é tudo o que eu preciso dizer, mas é o consigo sem ter que parar e me controlar. A última coisa que eu preciso agora é que meus olhos se encham de lágrimas. Porque eu não vou chorar, eu não posso chorar na frente dele. Não depois de tanto tempo, não depois de tantas vezes que eu já chorei sozinha por não ter tido coragem de abrir meu coração, por ter guardado para mim tudo o que sentia, por saber que ele estava com outra pessoa e que essa pessoa, talvez, só talvez pudesse ser eu...
E o silêncio predomina... Parece que ele não esperava que eu fosse responder, parece que ele não sabe o que dizer. Então eu espero. E espero.
E quando percebo, estou de volta na minha sala de estar, com o coração pesado e triste, porque nós não tivemos essa conversa. Porque nós nunca teremos essa conversa e eu nunca irei conseguir te dizer o que eu sentia a tanto tempo atrás e nem o quanto eu acredito que isso ainda esteja dentro de mim.
Você está seguindo sua vida, em algum lugar, com alguma outra pessoa e a única coisa que eu realmente gostaria de saber nesse momento é se alguma vez, nesse tempo todo, você pensou em mim.
Não sei se mudaria alguma coisa, não sei se saber me faria bem ou me traria ainda mais dor.
Mas é que hoje eu me lembrei de você...
Eu estive ao seu lado e quis muito que não fosse tudo uma sensação, um sonho imaginado entre alguns minutos enquanto escutava uma música e não conseguia pensar em mais nada além de você e de como talvez a gente poderia ter se tornado nós...
A música acaba, o play começa outra completamente diferente e eu volto para a realidade.
Não adianta nada pensar no que você poderia ter feito no passado e não fez, não adianta imaginar conversas que você nunca teve e que provavelmente nunca terá.
Mas a dor continua... As lágrimas começam a cair - dessa vez, não por você, não pelo que eu não disse, não pelo que não aconteceu.. . E sim, por mim... Por meu pequeno coração que sente demais - muito mais do que deveria sentir e acaba transbordando pelos olhos o que não consegue mais manter guardado lá dentro...
(texto original, escrito em 20/02/2017)